sexta-feira, 21 de setembro de 2007

A ARTE NA ANTIGUIDADE

O intercâmbio entre as civilizações na Antiguidade parece ter sido sempre constante, não mais se admitindo que vários povos desse período, como já se acreditou, vivessem isolados. Assim, grande parte da cultura dos persas foi assimilada de outros povos. A arte, nesse período, tinha por finalidade reproduzir a vida do rei, com o objetivo de engrandecê-lo. Com o mesmo objetivo eram construídos grandes palácios, ricamente decorados, como os de Susa e Persépolis, contando com forte influência dos povos dominados, a exemplo dos egípcios e mesopotâmicos. Na época de Dario, ficaram famosos os pairidaeze, jardins murados e protegidos dos fortes ventos e da areia do deserto, que frente à beleza e contraste com o restante da paisagem, serviu de matriz para significado da palavra paraíso.
No que diz respeito à cultura mesopotâmica, destacou-se, especialmente a escrita cuneiforme decifrada pelos estudiosos Gratefend e Rawlison. Toda produção cultural descendia em grande parte, dos sumérios. Na escultura e na pintura, enfatizaram a estatuária e elaboração dos baixos-relevos com sentido decorativo, especialmente para templos e palácios.
Os egípcios utilizavam a arquitetura, a escultura e a pintura como poderosos elementos de complementação das atitudes religiosas. Sendo assim, os escultores buscavam representar os faraós e os deuses, quase sempre em posições serenas, sem nenhuma emotividade. Os mitos religiosos também estão presentes na escultura através dos Usciabtis, figuras funerárias em miniatura, de cores fortes, geralmente esmaltados de azul, cujo objetivo era substituir o faraó morto. As obras arquitetônicas egípcias são as mais famosas, especialmente as pirâmides do deserto de Gizé, construídas por importantes reis do Antigo Império, cujas características mais marcantes são a solidez e a durabilidade, aspecto misterioso e sobretudo, sentimento de eternidade. A pintura tem seu campo de ação nas decorações dos monumentos funerários. No interior das tumbas, grandes telas murais aparecem recobertas por relevos e pinturas onde se descrevem as ocupações e o ambiente vital do defundo e se representam cenas de caráter religioso.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

PELOURINHO- SALVADOR


VIVER A ARTE NA HISTÓRIA

A arte vem ao longo do tempo se dedicando a registrar os fatos históricos e as características da sociedade que a produz.
O mundo de hoje é um mundo imagético, logo a imagem é algo que dialoga diretamente com nosso universo.
Percebe-se nesta, nuances da realidade que nos permite um olhar mais flexível sobre o mundo que nos cerca, fazendo-nos perceber outras possibilidades.
Viaje conosco neste mundo de imagem e da história.

O CINEMA E A ARTE



O experimentalismo da Vanguarda Francesa por Esmir Filho e Caroline Leone *

INTRODUÇÃO Após a Primeira Guerra Mundial, a intranqüilidade econômica, política e social fragmentou os pontos de vista tradicionais, possibilitando a formação de um terreno fértil no plano cinematográfico. O crítico e escritor Louis Delluc evidenciava na França o descontentamento com filmes comerciais, enquanto os artistas de vanguarda começavam a se interessar pela linguagem cinematográfica."Nos dez anos compreendidos entre 1921 e 1931, desenvolveu-se um movimento artístico independente na cinematografia. Este movimento denominou-se Avant-Garde... Este movimento de arte em filme foi paralelo a movimentos nas artes plásticas tais como o Expressionismo, o Futurismo, o Cubismo e o Dadaísmo. Foi não comercial, não representacional, mas internacional". (Hans Richter in Art and Cinema, 1947). O AVANT-GARDE Pode-se dividir o Avant-Garde francês em três fases, segundo Jacques Brunius. As duas primeiras pouco contribuíram para o filme de arte pessoal, uma vez que constituíam-se principalmente de filmes de arte com tendência comercial. A terceira, "A Escola de Paris", por sua autenticidade, serve até hoje como paradigma para muitos dos cineastas, como o cineasta brasileiro Artur Omar.A primeira fase foi centrada na figura do próprio Louis Delluc, que dirigiu três filmes dramáticos: "Fièvre" (1922), "La Femme de Nulle Part" (1922) e "L´Inondation" (1924). Ele pretendia fazer um cinema intelectualizado e autônomo, inspirado na pintura impressionista; um cinema independente das outras artes. Suas críticas, mais do que seus filmes, favoreceram o desenvolvimento da pesquisa estética pelos cineastas do Avant-Garde. Caracterizada por filmes narrativos de origem literária, a segunda fase utilizou truques de técnica, tais como superposição, foco suave e ângulos diferentes com a câmera. Filmes como "La Souriante Madame Beudet" (1922), de Germaine Dulac , "Feu Mathias Pascal" (1924) e "L' Inhumaine", de Marcel L' Herbier são considerados importantes para a segunda fase, juntamente com os trabalhos de Jean Epstein que, com um de seus filmes "La Chute de La Maison Usher" (1928) , retratava uma série de histórias de Edgar Allan Poe. Houve diretores que ousaram um pouco mais. Claude Autant- Lara, por exemplo, criou uma narrativa experimental empregando três quadros colocados lado a lado no filme de 45mm em "Fait-Diver" (1924) e também em uma versão de "How to Start a Fire" (1928-29) de Jack London.Independentemente da divisão das fases do Avant-Garde, dois diretores merecem destaque: Abel Gance e Dimitri Kirsanov. O grande Abel Gance realizou, muito antes do início oficial do Avant-Garde, um filme experimental de science-fiction repleto de distorções fotográficas: "La Folie du Docteur Tube" (1916). Mas, foi com o épico "Napoleon" (1925), que ele provou sua magnificência, empregando três telas em separado através do processo inédito denominado Polyvision.O original Dimitri Kirsanov, com seu "Ménilmontante" (1924), trabalhou inteiramente só, com a câmera na mão, posteriormente criando montagens formidáveis e superposições líricas. A órfã seduzida e castigada do filme, mais tarde apareceu em seu "Brumes d'Automne", um poema cinematográfico feito com chuva, névoa, paisagens de outono e lágrimas. Também independente, o cartaz sonoro "Rapt" (1933) constitui um experimento com contraponto auditivo e visual de Kirsanov. Na terceira fase, houve cineastas que se alternaram entre produções comerciais e de Avant-Garde e outros que realizaram filmes estritamente não comerciais. Estes últimos participavam do núcleo de intelectuais de artistas dos anos 20, simpáticos à causa dos bolcheviques russos, revelando em suas obras uma violenta crítica à sociedade burguesa deste período. Eram caracterizados como filme antiburgueses. Essa tendência do cinema tem como principais representantes os dadaístas, grupo mais radical e anárquico entre todos os vanguardistas deste período. No movimento Dada, a referência ao cinema tem o significado de negação e ironia dos valores estéticos tradicionais, tendo como preocupação primeira o ritmo e o movimento. A percepção da importância da luz, e seu significado pelos vanguardistas, possibilitou a realização de um trabalho original e extremamente importante para a História do Cinema. Indícios dadaístas manifestam-se no primeiro filme de René Clair, "Paris que Dort" (1923) que, com referências aos primeiros truques franceses, contava a história de um cientista louco que congelou o tempo em Paris. Ainda mais extravagante,"Entr'act" (1924) conta com o roteiro de Francis Picabia, trilha sonora composta por Erik Satie e inspirado em Mark Sennett. Entreato, como o próprio nome diz, foi criado para ser projetado no intervalo das duas partes do escandaloso balé Relâche, concebido pelo próprio Picabia cujo título significa "não há encenação hoje". Com imagens sucedendo-se em uma relação não causal e sem nenhuma lógica, o filme mostra desde ângulos inusitados de uma bailarina barbuda e ritmos frenéticos de um funeral até balões infláveis soltos no ar e imagens de Man Ray e Marcel Duchamp jogando xadrez, com panorâmicas tão rápidas que se reduziam a manchas disformes na tela. Planos agressivos e propositalmente desprazerosos caracterizam esta comédia de perseguição de um artista que, no final, faz desaparecer todas as personagens, inclusive ele próprio. Do ponto de vista dadaísta, eles conseguiram seu objetivo na noite de estréia do filme, já que a platéia se dividiu entre aqueles que reagiam com furor vaiando e xingando e aqueles que aplaudiam encantados com o filme. Seu alvo era mesmo o de provocar o público e escandalizar a burguesia francesa, assim como escandalizou posteriormente as cidades de Londres e Nova Iorque. Pintor e Fotógrafo, Man Ray fez seu primeiro filme "Le Retour à La Raison" (1923) em um só dia. O título se refere a um retorno a razão mas, paradoxalmente, o filme revela-se inteiramente sem razão. Utilizando-se de radiogramas, quadros feitos por objetos colocados diretamente sobre a película, como alfinetes e botões, o filme projetava efeitos metálicos na tela. O corpo nu de uma mulher foi um dos únicos elementos concretos do filme, que continha cenas comuns em um contexto incomum. Esta foi uma obra dadaísta, tanto pelos elementos utilizados quanto pelos seus resultados, uma vez que causou uma reação violenta na platéia sendo interrompida a projeção após três minutos. Em 1927, Man Ray realizou seu segundo filme, "Emak-Bakia", título em basco que significa "deixe-me em paz". O filme inclui formas abstratas e outras não tão abstratas que se movem à luz. Man Ray volta a usar alfinetes, tachinhas e sal sobre a película virgem, desafiando toda estética tradicional. Assim, entre golas de camisas que dançam e sucessões de mulheres com pares de olhos pintados nas pálpebras, que ao se abrirem revelam olhos verdadeiros, o filme vai tecendo um efeito surpreendente. Man Ray filma "L'Étoile de mer" em 1928, uma história de amor complexa baseada em um poema de Robert Desnos. Cineasta algum ilustrou melhor um texto poético, criando uma harmonia entre este e as imagens de fundo psicanalítico com sugestões vagas de perversões sexuais, distorcidas por espelhos e filtros disformes. Este filme se distingue de suas obras dadaístas anteriores por ser totalmente surrealista. Dudley Murphy, produtor americano, propôs a Man Ray a realização de um filme dito "experimental". Com poucos dias de rodagem, Man Ray percebeu o quanto precisavam de ajuda financeira e o projeto ficou inacabado. O mesmo ocorreu quando Dudley ao se juntar a Fernand Léger, mas este tratou de finalizar o filme através de seus próprios meios, surgindo assim "Le ballet Mécanique" (1924), uma dança visual de ritmos mecânicos. O primeiro filme de Marcel Duchamp "Anemic Cinema" (1926), cujo título brinca com as letras da palavra cinema, põe em movimento esferas rotatórias ou rotoreliefs (discos em que Duchamp desenhou linhas e círculos concêntricos e excêntricos) que, ao girarem, provocam no espectador uma sensação estranha, como uma nova dimensão. Inscritas nos espirais, as letras vão formando frases indecifráveis, compondo um dos fenômenos visuais mais puros, sensíveis e fascinantes, em uma tentativa de se produzir filmes estereoscópicos. Os filmes de Avant-Garde foram algumas vezes denominados de "cinema absoluto" ou de "cinema puro" devido sua ênfase nos valores rítmicos e estéticos. O irmão de René Clair, por exemplo, intitulou suas obras, feitas de películas refletidas através de cristais que se moviam ritmados, de "Cinq Minutes de Cinéma Pur" (1926) e "Reflets de Lumière et de Vitesse" (1925).O mais famoso filme do Avant-Garde foi "Un Chien Andalou" (1929), direção de estréia de Luis Buñuel, realizado em parceria com o pintor surrealista Salvador Dali. Totalmente Freudiano e poético, este era um filme feito com o automatismo necessário para a liberação do eu. Como em um pesadelo, imagens desconexas e perturbadoras parecem ter sido retiradas diretamente de nosso inconsciente. De "Un Chien Andalou" foram eliminadas quaisquer gags que pudessem ser explicadas racionalmente. Não há no filme lugar para o belo sonho, para a piada ou o esteticismo. Trata-se de penetrar a vida latente, de berrar a angústia e o amor, de atirar na cara do mundo o humor negro. A primeira imagem do filme que mostra uma navalha cortando um olho em primeiríssimo plano, anuncia que aquilo que irá ser visto é diferente de qualquer outra coisa já mostrada, provocando um dos maiores sustos da história do cinema. Buñuel movimentou o cinema em direção ao sensível. Para ele, a realidade contém a surrealidade e vice-versa; sua câmera é o olho no estado selvagem. Apesar da parceria, Dali e Buñuel tinham objetivos diferentes quanto ao resultado do filme. O primeiro queria penetrar o domínio incandescente, onde o sonho e realidade se misturam, confundindo-se em um ato de libertação. Para o segundo, o mais importante era o deboche ao burguês. Buñuel queria ultrapassar os limites freudianos, erguendo-se na angústia, nos gritos de revolta e na recriação do sonho. Em 1930, Buñuel filma "L´Age d´Or" com colaboração limitada de Dali. Este filme não permitia interpretações abstratas e não se prestava à digestão dos burgueses. Era uma história violentamente realista e surrealista sobre sexo e inibição, recebendo severas críticas até mesmo do próprio Buñuel. De tão controverso, o filme em seu lançamento foi literalmente recebido por bombas, foi proibido, e a maior parte de suas cópias destruídas. Por causa de sua limitada exibição, sua influência cinematográfica foi reduzida. O Avant-Garde, este que causou furor na década de 20, desapareceu nas décadas seguintes. Relacionar tal fato com o advento do cinema sonoro é de certa forma errôneo, já que os próprios vanguardistas fizeram experiências criativas que mesclavam imagens e sons, mesmo que estes últimos fossem reproduzidos ao vivo da sala de projeção. A partir de 1930, surge uma conjuntura política de regimes totalitários que defende ideais conservadores extremamente hostis a todo movimento de vanguarda. Tais governos vão encarar o Avant-Garde como uma forma degenerada de arte e muitos vão chegar a censurar as obras e perseguir os realizadores. Além disso, as amargas realidades da Depressão forçavam os artistas a engajarem-se sociológica e politicamente. Portanto, as perspectivas da arte de vanguarda tornam-se remotas e sombrias, fazendo com que alguns criadores abandonassem a cinematografia ou realizassem filmes de caráter comercial, migrassem para a América, ou tornarem-se clandestinos. BIBLIOGRAFIA · MACHADO, Arlindo. Pré-Cinemas e Pós-Cinemas. · BRETON, André. Manifestos do Surrealismo. · ARANDA, J. Luis Buñuel; A Critical Biography * Esmir Filho e Caroline Leone são estudantes do curso de cinema da FACOM - FAAP. data de publicação: 16/05/2002
O experimentalismo da Vanguarda Francesa por Esmir Filho e Caroline Leone *

INTRODUÇÃO Após a Primeira Guerra Mundial, a intranqüilidade econômica, política e social fragmentou os pontos de vista tradicionais, possibilitando a formação de um terreno fértil no plano cinematográfico. O crítico e escritor Louis Delluc evidenciava na França o descontentamento com filmes comerciais, enquanto os artistas de vanguarda começavam a se interessar pela linguagem cinematográfica."Nos dez anos compreendidos entre 1921 e 1931, desenvolveu-se um movimento artístico independente na cinematografia. Este movimento denominou-se Avant-Garde... Este movimento de arte em filme foi paralelo a movimentos nas artes plásticas tais como o Expressionismo, o Futurismo, o Cubismo e o Dadaísmo. Foi não comercial, não representacional, mas internacional". (Hans Richter in Art and Cinema, 1947). O AVANT-GARDE Pode-se dividir o Avant-Garde francês em três fases, segundo Jacques Brunius. As duas primeiras pouco contribuíram para o filme de arte pessoal, uma vez que constituíam-se principalmente de filmes de arte com tendência comercial. A terceira, "A Escola de Paris", por sua autenticidade, serve até hoje como paradigma para muitos dos cineastas, como o cineasta brasileiro Artur Omar.A primeira fase foi centrada na figura do próprio Louis Delluc, que dirigiu três filmes dramáticos: "Fièvre" (1922), "La Femme de Nulle Part" (1922) e "L´Inondation" (1924). Ele pretendia fazer um cinema intelectualizado e autônomo, inspirado na pintura impressionista; um cinema independente das outras artes. Suas críticas, mais do que seus filmes, favoreceram o desenvolvimento da pesquisa estética pelos cineastas do Avant-Garde. Caracterizada por filmes narrativos de origem literária, a segunda fase utilizou truques de técnica, tais como superposição, foco suave e ângulos diferentes com a câmera. Filmes como "La Souriante Madame Beudet" (1922), de Germaine Dulac , "Feu Mathias Pascal" (1924) e "L' Inhumaine", de Marcel L' Herbier são considerados importantes para a segunda fase, juntamente com os trabalhos de Jean Epstein que, com um de seus filmes "La Chute de La Maison Usher" (1928) , retratava uma série de histórias de Edgar Allan Poe. Houve diretores que ousaram um pouco mais. Claude Autant- Lara, por exemplo, criou uma narrativa experimental empregando três quadros colocados lado a lado no filme de 45mm em "Fait-Diver" (1924) e também em uma versão de "How to Start a Fire" (1928-29) de Jack London.Independentemente da divisão das fases do Avant-Garde, dois diretores merecem destaque: Abel Gance e Dimitri Kirsanov. O grande Abel Gance realizou, muito antes do início oficial do Avant-Garde, um filme experimental de science-fiction repleto de distorções fotográficas: "La Folie du Docteur Tube" (1916). Mas, foi com o épico "Napoleon" (1925), que ele provou sua magnificência, empregando três telas em separado através do processo inédito denominado Polyvision.O original Dimitri Kirsanov, com seu "Ménilmontante" (1924), trabalhou inteiramente só, com a câmera na mão, posteriormente criando montagens formidáveis e superposições líricas. A órfã seduzida e castigada do filme, mais tarde apareceu em seu "Brumes d'Automne", um poema cinematográfico feito com chuva, névoa, paisagens de outono e lágrimas. Também independente, o cartaz sonoro "Rapt" (1933) constitui um experimento com contraponto auditivo e visual de Kirsanov. Na terceira fase, houve cineastas que se alternaram entre produções comerciais e de Avant-Garde e outros que realizaram filmes estritamente não comerciais. Estes últimos participavam do núcleo de intelectuais de artistas dos anos 20, simpáticos à causa dos bolcheviques russos, revelando em suas obras uma violenta crítica à sociedade burguesa deste período. Eram caracterizados como filme antiburgueses. Essa tendência do cinema tem como principais representantes os dadaístas, grupo mais radical e anárquico entre todos os vanguardistas deste período. No movimento Dada, a referência ao cinema tem o significado de negação e ironia dos valores estéticos tradicionais, tendo como preocupação primeira o ritmo e o movimento. A percepção da importância da luz, e seu significado pelos vanguardistas, possibilitou a realização de um trabalho original e extremamente importante para a História do Cinema. Indícios dadaístas manifestam-se no primeiro filme de René Clair, "Paris que Dort" (1923) que, com referências aos primeiros truques franceses, contava a história de um cientista louco que congelou o tempo em Paris. Ainda mais extravagante,"Entr'act" (1924) conta com o roteiro de Francis Picabia, trilha sonora composta por Erik Satie e inspirado em Mark Sennett. Entreato, como o próprio nome diz, foi criado para ser projetado no intervalo das duas partes do escandaloso balé Relâche, concebido pelo próprio Picabia cujo título significa "não há encenação hoje". Com imagens sucedendo-se em uma relação não causal e sem nenhuma lógica, o filme mostra desde ângulos inusitados de uma bailarina barbuda e ritmos frenéticos de um funeral até balões infláveis soltos no ar e imagens de Man Ray e Marcel Duchamp jogando xadrez, com panorâmicas tão rápidas que se reduziam a manchas disformes na tela. Planos agressivos e propositalmente desprazerosos caracterizam esta comédia de perseguição de um artista que, no final, faz desaparecer todas as personagens, inclusive ele próprio. Do ponto de vista dadaísta, eles conseguiram seu objetivo na noite de estréia do filme, já que a platéia se dividiu entre aqueles que reagiam com furor vaiando e xingando e aqueles que aplaudiam encantados com o filme. Seu alvo era mesmo o de provocar o público e escandalizar a burguesia francesa, assim como escandalizou posteriormente as cidades de Londres e Nova Iorque. Pintor e Fotógrafo, Man Ray fez seu primeiro filme "Le Retour à La Raison" (1923) em um só dia. O título se refere a um retorno a razão mas, paradoxalmente, o filme revela-se inteiramente sem razão. Utilizando-se de radiogramas, quadros feitos por objetos colocados diretamente sobre a película, como alfinetes e botões, o filme projetava efeitos metálicos na tela. O corpo nu de uma mulher foi um dos únicos elementos concretos do filme, que continha cenas comuns em um contexto incomum. Esta foi uma obra dadaísta, tanto pelos elementos utilizados quanto pelos seus resultados, uma vez que causou uma reação violenta na platéia sendo interrompida a projeção após três minutos. Em 1927, Man Ray realizou seu segundo filme, "Emak-Bakia", título em basco que significa "deixe-me em paz". O filme inclui formas abstratas e outras não tão abstratas que se movem à luz. Man Ray volta a usar alfinetes, tachinhas e sal sobre a película virgem, desafiando toda estética tradicional. Assim, entre golas de camisas que dançam e sucessões de mulheres com pares de olhos pintados nas pálpebras, que ao se abrirem revelam olhos verdadeiros, o filme vai tecendo um efeito surpreendente. Man Ray filma "L'Étoile de mer" em 1928, uma história de amor complexa baseada em um poema de Robert Desnos. Cineasta algum ilustrou melhor um texto poético, criando uma harmonia entre este e as imagens de fundo psicanalítico com sugestões vagas de perversões sexuais, distorcidas por espelhos e filtros disformes. Este filme se distingue de suas obras dadaístas anteriores por ser totalmente surrealista. Dudley Murphy, produtor americano, propôs a Man Ray a realização de um filme dito "experimental". Com poucos dias de rodagem, Man Ray percebeu o quanto precisavam de ajuda financeira e o projeto ficou inacabado. O mesmo ocorreu quando Dudley ao se juntar a Fernand Léger, mas este tratou de finalizar o filme através de seus próprios meios, surgindo assim "Le ballet Mécanique" (1924), uma dança visual de ritmos mecânicos. O primeiro filme de Marcel Duchamp "Anemic Cinema" (1926), cujo título brinca com as letras da palavra cinema, põe em movimento esferas rotatórias ou rotoreliefs (discos em que Duchamp desenhou linhas e círculos concêntricos e excêntricos) que, ao girarem, provocam no espectador uma sensação estranha, como uma nova dimensão. Inscritas nos espirais, as letras vão formando frases indecifráveis, compondo um dos fenômenos visuais mais puros, sensíveis e fascinantes, em uma tentativa de se produzir filmes estereoscópicos. Os filmes de Avant-Garde foram algumas vezes denominados de "cinema absoluto" ou de "cinema puro" devido sua ênfase nos valores rítmicos e estéticos. O irmão de René Clair, por exemplo, intitulou suas obras, feitas de películas refletidas através de cristais que se moviam ritmados, de "Cinq Minutes de Cinéma Pur" (1926) e "Reflets de Lumière et de Vitesse" (1925).O mais famoso filme do Avant-Garde foi "Un Chien Andalou" (1929), direção de estréia de Luis Buñuel, realizado em parceria com o pintor surrealista Salvador Dali. Totalmente Freudiano e poético, este era um filme feito com o automatismo necessário para a liberação do eu. Como em um pesadelo, imagens desconexas e perturbadoras parecem ter sido retiradas diretamente de nosso inconsciente. De "Un Chien Andalou" foram eliminadas quaisquer gags que pudessem ser explicadas racionalmente. Não há no filme lugar para o belo sonho, para a piada ou o esteticismo. Trata-se de penetrar a vida latente, de berrar a angústia e o amor, de atirar na cara do mundo o humor negro. A primeira imagem do filme que mostra uma navalha cortando um olho em primeiríssimo plano, anuncia que aquilo que irá ser visto é diferente de qualquer outra coisa já mostrada, provocando um dos maiores sustos da história do cinema. Buñuel movimentou o cinema em direção ao sensível. Para ele, a realidade contém a surrealidade e vice-versa; sua câmera é o olho no estado selvagem. Apesar da parceria, Dali e Buñuel tinham objetivos diferentes quanto ao resultado do filme. O primeiro queria penetrar o domínio incandescente, onde o sonho e realidade se misturam, confundindo-se em um ato de libertação. Para o segundo, o mais importante era o deboche ao burguês. Buñuel queria ultrapassar os limites freudianos, erguendo-se na angústia, nos gritos de revolta e na recriação do sonho. Em 1930, Buñuel filma "L´Age d´Or" com colaboração limitada de Dali. Este filme não permitia interpretações abstratas e não se prestava à digestão dos burgueses. Era uma história violentamente realista e surrealista sobre sexo e inibição, recebendo severas críticas até mesmo do próprio Buñuel. De tão controverso, o filme em seu lançamento foi literalmente recebido por bombas, foi proibido, e a maior parte de suas cópias destruídas. Por causa de sua limitada exibição, sua influência cinematográfica foi reduzida. O Avant-Garde, este que causou furor na década de 20, desapareceu nas décadas seguintes. Relacionar tal fato com o advento do cinema sonoro é de certa forma errôneo, já que os próprios vanguardistas fizeram experiências criativas que mesclavam imagens e sons, mesmo que estes últimos fossem reproduzidos ao vivo da sala de projeção. A partir de 1930, surge uma conjuntura política de regimes totalitários que defende ideais conservadores extremamente hostis a todo movimento de vanguarda. Tais governos vão encarar o Avant-Garde como uma forma degenerada de arte e muitos vão chegar a censurar as obras e perseguir os realizadores. Além disso, as amargas realidades da Depressão forçavam os artistas a engajarem-se sociológica e politicamente. Portanto, as perspectivas da arte de vanguarda tornam-se remotas e sombrias, fazendo com que alguns criadores abandonassem a cinematografia ou realizassem filmes de caráter comercial, migrassem para a América, ou tornarem-se clandestinos. BIBLIOGRAFIA · MACHADO, Arlindo. Pré-Cinemas e Pós-Cinemas. · BRETON, André. Manifestos do Surrealismo. · ARANDA, J. Luis Buñuel; A Critical Biography * Esmir Filho e Caroline Leone são estudantes do curso de cinema da FACOM - FAAP. data de publicação: 16/05/2002